Conheça a obra do indiano que venceu, em 2018, o prêmio mais importante da arquitetura mundial e que ensinou ao mundo como transformar refúgios em moradia.
O Prêmio Pritzker é considerado o Nobel da arquitetura, e a condecoração de maior importância que um arquiteto pode receber em sua carreira. Ao longo dos anos, o Prêmio já reconheceu o trabalho de arquitetos do mundo todo, incluindo o brasileiro Oscar Niemeyer.
Em 2018, aos 90 anos e com 70 de uma carreira brilhante, com obras importantíssimas, o indiano Balkrishna Doshi foi o vencedor do Prêmio Pritzker. Não se sabe porque o arquiteto modernista, reconhecido mundialmente há décadas, levou tanto tempo para receber esta honraria.
Para ser indicado a esta condecoração, o requisito é que o profissional tenha realizado não somente projetos grandiosos no sentido artístico, mas que sua obra “tenha produzido significativas contribuições para a humanidade ao longo dos anos”, como define a organização do Pritzker.
E foi exatamente isso que Doshi fez por toda a sua vida enquanto arquiteto na Índia.
Doshi formou-se em 1947. Naquele mesmo ano, a Índia conquistou sua independência do Reino Unido.
Recém-formado, o jovem arquiteto decidiu que passaria um tempo em Paris para trabalhar com Le Corbusier, um franco-suíço ícone da arquitetura moderna mundial na época.
Seu único objetivo era absorver todo o aprendizado possível, no menor espaço de tempo, e voltar a sua terra natal para trabalhar na construção identitária de uma nova nação indiana que estava nascendo.
Balkrishna Doshi não só estudou e trabalhou com Le Corbusier como, em 1954, foi designado a coordenar alguns projetos de seu mestre nas cidades de Chandigarh e Ahmedabad, o que lhe proporcionou voltar à Índia, conforme havia planejado.
De lá pra cá, o arquiteto indiano ganhou destaque por suas obras voltadas ao povo, e pela contribuição significativa para a evolução da arquitetura na Índia.
Atualmente, Balkrishna Doshi trabalha apenas como consultor para os projetos de seus sócios e como professor no Sagath, uma escola-estúdio que construiu na década de 1980, em Ahmedabad. Lá são oferecidos cursos para cerca de 60 pessoas. Não é à toa que o termo Sagath significa “avançando juntos”.
Uma de suas principais obras de cunho social e habitacional é o Complexo Habitacional Aranya, onde vivem cerca 80 mil pessoas atualmente, entre famílias de baixa e média renda. Segundo Doshi, em entrevista para a Casa Vogue, “as classes mais humildes precisam ter acesso a um desenho adequado de habitação”.
Outra grande e importante obra do arquiteto e professor indiano é o Indian Institute of Management, que é composto por um grupo de 20 institutos públicos e autônomos de educação e pesquisa em administração, localizados em Bangalore, na Índia.
Além da visão humanista e do senso de responsabilidade social que Doshi conferiu aos seus projetos ao longo da vida, o arquiteto também busca a arquitetura como transformação e legado da espiritualidade indiana. “Olhei muito para nossa forma de buscar, por meio da espiritualidade, um sentido profundo na vida”, afirma.
Para ele, os ambientes devem ser articulados de forma a tornarem-se livres, abertos, e até mesmo líricos. Habitar e existir são ações que coexistem nos projetos de Balkrishna Doshi, e que podem ser feitos de várias maneiras.
A arquitetura de Doshi não é feita apenas para ser vista, mas para ser sentida, ouvida e tocada. É uma arquitetura de sentidos.